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Psicóloga, formada pela FUMEC, com inscrição no CRP 04/34263. Formação em Psicoterapia Familiar Sistêmica,Terapia Ericksoniana / Hipnoterapia e Sexologia Clínica. Pós-Graduação em TCC- Infância e Adolescência. Atua com psicoterapias individuais, de casais e famílias.Atualmente Psicóloga em consultório particular em BH e Carmo da Mata. Colunista do Jornal Gazeta de Minas em Oliveira e Jornal A Noticia em Carmo da Mata. Ministrante de palestras em escolas e empresas. Sócio-Fundadora da Equipe PerCursos – Cursos, Palestras e Workshops em Belo Horizonte.

sábado, 16 de dezembro de 2017

E o que fazer com o prazer? – Por Camila Lobato

Vivemos hoje numa sociedade altamente consumista. É o consumir para obter prazer e felicidade. Ter prazer a qualquer custo.

O hedonismo, do grego hedonê = a prazer, vontade. Hoje o que presenciamos é uma sociedade hedonista, voltada para uma cultura extrema do prazer. E o mercado consumista aproveitou esse gancho e quer nos mostrar que podemos ter esse prazer, basta consumir. Assim sempre vêm mais e mais produtos, uma tecnologia que avança de forma enlouquecedora, a moda completamente efêmera, alimentos cada vez mais sofisticados e diversificados, medicamentos que “dizem e prometem” resolver não só problemas físicos, mas acabar com sofrimentos, instabilidade emocional e, até, podem curar a dor do fim de uma relação. Então se consumimos não temos mais problemas e de gorjeta ainda temos o prazer – isso é o que a mídia e as propagandas nos dizem.

Vivemos em um momento em que podemos tudo. A beleza, o que eu tenho, o status no meio em que vivo é o que vale, assim perdemos cada vez mais o respeito pelo outro porque o importante sou eu, os outros pouco importa. É a exacerbação do individualismo.

Quando falo de individualismo não falo de individualidade, isso é outra coisa. Na individualidade a pessoa se volta para ela mesma, para sua essência, é o resgate do indivíduo e do seu ser. Ela tem noção do seu ser e consequentemente tem respeito pelo outro. Eu me conheço através do outro. Eu me conheço e reconheço o outro. Valoriza e respeita a sua individualidade e dos outros, é diferente do individualismo que considero mais próximo do egoísmo, egocentrismo.

Em contrapartida vemos as drogas se alastrarem cada vez mais e dominar tanto as classes mais baixas quanto as mais altas economicamente e ficamos loucos com isso. Não percebemos que o que as drogas nos oferecem é o que a cultura coloca como valor: a falsificação do eu e esse prazer imediato à cima de tudo. Falsificação do eu por quê?

A sociedade pós moderna nos permite consumir um tanto de apetrechos, acessórios, bens materiais que escondem cada vez mais a individualidade, o sujeito na sua essência, a pessoa com sua feiura e beleza, seu lado bom e ruim, seus limites e potencialidades, ficamos e queremos só uma lado nosso e do outro, não queremos lidar com aquilo que não podemos/limites da vida. Não sabemos mais o que é valor para nós. Muitas coisas nos são ofertadas de uma forma sedutora com a ideia de que isso nos dará um lugar de importância e prazer. Acreditamos, pois estamos cada vez mais desconectados do nosso mundo interno, vivemos de aparência e nesse mundo “ter” tem valor. Ser não é valor mais, agora é ter. Ou mais ainda: parecer ter, porque cada vez mais nos mostramos e nos apresentamos, muitas vezes, com coisas que nem temos. Esta ai a falsificação do eu. E isso é feito para obter o prazer, para mostrar poder diante dos outros. Isso não é nos conhecer, nos permitir ser quem somos no real. Montamos numa imagem porque não damos conta da realidade – isso é falsificação.

Então como condenar as drogas sendo que ela nos dá o que a sociedade coloca como valor? A droga nos da uma falsificação do eu, ficamos fora de nós mesmos, temos um prazer momentâneo, um status de que podemos tudo, uma onipotência e uma coragem fora do real.

É um paradoxo condenar as drogas no mundo em que estamos. Acredito que ela é mais um dos produtos que o mercado fornece para consumirmos e chegar no ápice de que tudo é possível. Não queremos lidar com imperfeições, problemas, dificuldades e limites. Mas o outro paradoxo é que quanto mais o mercado nos oferece essas falsas soluções para tudo, meios para não ter contato com a nossa essência, com os limites e com os desprazeres que fazem parte da vida, mais vemos este sistema falhar. Problemas, doença psicológicas, assassinatos, crimes, dificuldades de relacionamento, separações aumentam gradativamente. Não é hora de repensar sobre este sistema que estamos envolvidos e caindo na sua sedução? Não é hora de nos conhecer no real das nossas potencialidades e limites?